terça-feira, 27 de setembro de 2011

Poema do Cadáver

Poema do Cadáver

                                      ( I )

Domingo à tarde. As ruas estão vazias de gentes,
Só o vento quente do verão e um café estão abertos,
Há quem queira café quente em meio a este deserto,
Há quem sofra dessa solidão externa, internamente.

Olho as esquinas e com dificuldade enxergo essas suas,
Confluências entre passagens pré definidas, antes,
Talvez melhor que fosse assim o meu destino errante,
Preconcebido como o desenho quadrilátero das ruas.

                                      ( II )

Minha vida não possui esta lógica, talvez nenhuma,
Nem sei se se chama vida tamanha desinteligência,
Sinto assim um sentimento agudo de tamanha urgência,
Fugaz como o sorriso branco das águas na espuma.

Eu que tenho em mim tantos e tão estranhos desencontros,
Como um desenho de uma doentia desarquitetura,
Que somente possuindo a lógica que possuo – a da loucura,
É que ponho enfim tudo encaixado em seus devidos pontos.

Sou, assim, um saco enorme de esquinas e encruzilhadas,
Levo em mim a falta de saída de multidões de becos,
Trago, por isso, de angústia e agonia os lábios secos,
E os olhos, em suas íris, trago elas úmidas, molhadas.

Falta encaixe, falta lógica, faltam retas nesta estrutura,
E tanto e tamanha a constatação fatídica desta dita falta,
Diante da penalidade que é ter tantas e tamanhas tralhas,

Que um dia muito distante, já com a noite alta,
Romperei, por não caber, as fibrosas cimentadas malhas,
Com que hão de fazer a minha própria sepultura!







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