segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Os Restos dos Seus Antigamentes

Os Restos dos Seus Antigamentes

Passo por essas ruas com casas velhas, paredes encardidas,
Que o tempo confiscou o telhado, levou em penhora o forro,
Nas calçadas velhos agasalhados, casacos, cachecóis, gorros,
E um olhar estrábico característico da lucidez perdida.

Padarias e mercados com azulejos quebrados e sem rejunte,
Máquinas de moer carne enferrujadas, balanças sem ponteiro,
Senhoras que passam os seus dias todos, estes dias inteiros,
A conversar consigo mesmas, sem que ninguém a elas pergunte.

Há, sim, uma estranha beleza em quadro tão triste, bisonho,
Há algo de docemente melancólico nessa definição de abandono,
Como um néctar que deixa eufórico e também tristonho.

Nessas arquiteturas decadentes, nessas tristes velhas gentes,
Vivendo como que se mergulhados em um inebriante sono,
Vivendo dos restos dos seus próprios antigamentes.

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