Desertores do Mar
Hoje eu estava diante do mar e ele anoiteceu fétido e sujo,
A sua maresia, qual serpente, enrodilhava-se nas narinas,
Trazendo à boca um cheiro nauseabundo de mil latrinas,
As marés trazendo a tona uma gosma untuosa de caramujos.
Os baiacus inchados como vítimas de violento enfarto,
Arrancados do peito do mar como corações do peito humano,
Demonstravam cruamente a extensão do enorme dano,
Como se fosse a morte o lado inverso daquele parto.
Nas franjas das marés altas ficavam os desenhos ondulantes,
Dos dedos longos das águas que pareciam querer fugir,
Do próprio mar que as abrigara tantos séculos antes.
E eu, como testemunha dos suas ondas como estertores,
Do mar querendo segurar suas próprias entranhas, a ruir,
Animais mortos, marés, uma legião de tristes desertores.
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