Derradeiro Encontro
Assim me dissestes, em meio ao lume,
Por entre os sons dos estridentes cristais,
Entre taças de vinhos e facas sem gumes,
Nebulosa penumbra de luzes a gás:
- Confesso que de início era doce o perfume,
Entretanto agora não me sinto assim mais,
Pois tudo em nós só me sabe ao estrume,
Das torpes mentiras de que fostes capaz!
Querida, agora uma só frase resume,
A nossa história: somos dois iguais,
Se puxares bens pelas tuas memórias,
Como levianos nós fomos, verás.
Juntos reunimos passagens inglórias,
E se de nossa história o amor tu retiras,
Restarão entre nós somente mentiras,
Qual jóias ornando ossadas mortais,
Ou somos canalhas, perfeitos bastardos,
Ou somos retardos, ou débeis mentais.
Então não me digas ser pobre inocente,
E que se pudesse voltavas atrás,
Esse seu argumento é tão incoerente,
Enredo escrito para enganar teus iguais.
Não vês minha querida: a palavra te falha,
Qual velha navalha não corta, não mais,
Serve-te apenas como mera mortalha,
Para tua honra morta que há muito que jaz!
Confessa querida tua parte no trato,
Nem mesmo é preciso que tu te vás,
És-me indiferente como um velho retrato,
Ver-te ou não ver-te para mim tanto faz.
Tinha a dizer-te só isso eu creio,
Destarte não sou mais remisso contigo,
Não sou teu amigo, tampouco te odeio,
Pois posso dizer-te, verdade mais pura,
Em nome do meu descanso e minha paz,
O tempo é da cura o princípio ativo,
Não sou seu cativo. Não! Não sou mais!
O tempo é princípio ativo da cura,
És-me indiferente como antiga pintura,
Até, até breve, até nunca mais!