sábado, 17 de dezembro de 2011

Perda Bruta

Perda Bruta

Hoje eu tive uma sensação de perda tão bruta,
Como se tudo em minha vida fosse um só desperdício,
E eu, aquele que foi desperdiçado desde o início,
Sendo a minha própria vida a perda mais absoluta.

A carne sofre do espírito os assomos várias vezes,
Como a terra sofre com o embate de dois titãs,
Como a ferida de uma irmã dói na outra irmã,
Ou num irmão, quando esses irmãos são siameses.

Taquicárdico, tossi, e de tosse tive seguidas crises,
A pressão sanguínea, de súbito, ficou alta,
O ar nos pulmões não entra mais e falta,
E saio então pelo caminho cuspindo hemoptises.

E assim cuspindo procuro as minhas pegadas,
Aquelas que definiram a minha própria trilha,
Mas, eis a crueldade dessa vil armadilha,
Eu fiz toda a trilha ser por mim mesmo apagada.

Que constatação horrenda, dura, tão rude,
Pudera eu ser como o animal que não pensa,
Pudesse eu sofrer uma terrível e maléfica doença,
E perder completamente a consciência e a saúde.

Com a dor de um homem que perdeu sua família,
Quero retroceder ao estado dos inertes vegetais,
Não quero consciência, não quero pensar mais,
Quero retornar à inconsciência cerebral de uma ervilha.

A dor que a perda faz doer em mim, cala e não berra,
De tão funda, de tão cortante, de tão densa,
Que em meio a tanta dor, a mente só pensa,
Se eu morresse, seria um cancro a menos sobre a terra!

Que a sensação que tenho – explique-a a ciência,
Diante de tamanha perda, de tamanha chaga,
Serei como a enchente que o sumidouro traga,
E serei como se nunca tivesse tido existência.





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