segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Inventário

Inventário
Minha querida precisava dizer-lhe,
E digo em silêncio, verdade velada,
Parece que o hoje morreu mais cedo,
Parece que a luz foi à força levada,
Qual chama de vela, tremendo de medo.

Minha querida no breu do silêncio,
Faço o inventário de tantas palavras,
Escrevo e escrevo rabiscos apenas,
Será que escritas no escuro as palavras,
São úteis ou são asas nuas, sem penas?

Minha querida, o que haverá,
Entre a verdade e o olhar de quem mente,
Entre um passado e o passo seguinte,
Entre a palavra e a língua dormente?

Minha querida permaneço no palco,
E sou prisioneiro do meu próprio roteiro,
Luzes acesas em meio a platéia,
Busco o sorriso de seu corpo inteiro.

Minha querida, no último ato,
Eu não percebi, a cortina caiu,
Cresceu um silêncio urgente, imediato,
Não entendi que um hiato surgiu,

E toda peça depois do roteiro,
Deixa de ser pura fantasia,
Torna-se fardo, torna-se morte,
Mentira, mentira, verdade vazia.

Minha querida, sozinho no palco,
Percebo que morro ao mundo que passo,
Vejo que me esquece tudo que existe,
Sou, no picadeiro, um triste palhaço,
Chorando no escuro, um palhaço triste

Um comentário: